Em véspera do Dia Mundial da Floresta, acho pertinente lembrar um procedimento recentemente adoptado pela EDP.
Esta empresa, agora com o seu call-center sediado em Seia, contrata pessoas a empresas de trabalho temporário e treina-as para um único objectivo. Saberem fazer chamadas em catadupa para casa e para os telemoveis dos seus clientes a fim de os convencer a aderir ao sistema da facturação electrónica.
A ideia é que todos (ou o maior número) aceitem deixar de receber em casa um envelope com uma folha dentro e passem a receber um e-mail no seu computador com os elementos da factura mensal ou trimestral.
Até aqui, nada de anormal...
O que defrauda, por só dizer meia verdade, é a retórica do contratado. Quando se apercebe da indecisão do destinatário da sua chamada ou da sua inclinação para recusar o convite, o Senhor ou a Senhora, já devidamente formatados, argumentam que a opção é amiga do ambiente e da floresta, porque quanto menor fôr o numero de folhas e envelopes de papel impressas e enviadas, menor é o numero de árvores abatidas.
É certo que assim é. Mas também é certo que se não fôr a EDP a imprimir as facturas será o cliente a fazê-lo depois de abrir a sua caixa de correio electrónico, já que mais não seja para instruir a sua declaração de IRS e ficar com o registo em suporte de papel.
Bem vistas as coisas, a EDP pretende transferir para o cliente o ónus de ser ele a suportar despesas que até agora lhe couberam a ela. Isto para já não falar nos milhões que poupará em portes de correio postal com a remessa da factura em envelope de papel.
Em nome de principios ambientais e de conservação da natureza, a nossa EDP prossegue objectivos puramente economicistas, recheando os seus cofres com uma floresta de euros.
Também está bem. No poupar é que está o ganho. Escusa é de pôr uns jovens (alguns de Gouveia) a fingir.