quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um mito chamado Obama



O Mundo 'repousa' no novo Presidente dos EUA. Ao que parece, não há criatura pensante que não pense que a humanidade vai ser salva. Da esquerda à direita, todos o consideram um bom homem, alguém que vai marcar uma nova era, um ser capaz de varrer a crise económica e a convulsão social que se sentem um pouco por todo o lado. Era bom, mas a sua arte não vai chegar para tanto. As expectativas que sobre ele se criaram são tão elevadas que só tem uma hipótese. Falhar e desiludir. Um só homem, por mais autoridade que tenha, não pode fazer tudo. A fome em África não vai acabar, as falências e o desemprego vão aumentar, a guerra em Israel não poderá ter senão uma curta trégua, a crise financeira mundial vai agudizar-se, os ódios raciais e religiosos estão para ficar e o resto ... ficará como dantes, ou parecido.
Esta embriaguez colectiva tem, porém, um lado bom. Há esperança e a esperança é a última a morrer. Enquanto ela dura, o nosso estado de alma está melhor. Ou pelo menos anestesiado, sem sentir a dor ou a suportá-la com mais ânimo. Mas tem também o seu lado mau. Quando acreditamos cegamente num lider, confundindo-o com uma causa, um ideal, desconfiamos de nós próprios e do nosso futuro. No fundo, o que lhe estamos a pedir, sem ele nos ouvir, é que nos ajude porque nós não somos capazes. Se fossemos, não precisávamos dele para nada. O ser humano é, por regra, egoista e individualista. Não domina os factos nem o futuro. Tem dificuldade em lidar com o desconhecido. Quando está bem, julga-se auto-suficiente. Quando tem problemas, apela a todos os Santinhos e entrega-se a algo ou a alguém que o faça sentir-se aliviado e lhe 'prometa' melhores dias. Só assim se explica que na tomada de posse de Obama estivessem, num sitio gelado e durante longas horas, milhares larguissimos de pessoas a mais de dois quilómetros de distância do seu Deus... Não o viam, não o conheciam, não lhe podiam falar ou tocar, mas lá estavam, embevecidos e frenéticos à espera de um milagre que dificilmente vai acontecer. Mas é assim, foi sempre assim. Criamos estes mitos sem percebermos que somos nós que, quase sempre, traçamos o nosso próprio destino...