O espectáculo de ontem à noite no Teatro-Cine teve uma qualidade apreciável.
Dois jovens, um no piano e com formação de jazz e outro na viola e com formação de fado, prestaram uma belissíma homenagem a Zeca Afonso e Carlos Paredes.
Parece-me que tão depressa não teremos por cá um concerto deste género (acordes de viola 'salteados' com umas notas de jazz e flamenco...) e com este nivel.
Parabéns à DLCG e a quem foi directamente responsável por esta escolha, já que mais não seja porque o primeiro disco deste dueto foi gravado há uns meses precisamente no Teatro-Cine de Gouveia.
Para quem não saiba, esta gravação ocorreu no âmbito das 'residências artisticas' que nos últimos dois anos foram acolhidas e promovidas pelo Municipio, numa tentativa de revitalizar a oferta cultural do Concelho.
Como tem sido comummente reconhecido, a programação adoptada melhorou e os Gouveenses têm tido a possibilidade de assistir a espectáculos dignos dos grandes palcos das principais cidades do país.
É pena que não tenham sabido aproveitá-las, pelo menos com a dimensão que era expectável.
Se bem repararem, a nossa sala só se compõe quando as Associações do Concelho ali produzem qualquer iniciativa.
A explicação é só uma: vem a familia e os amigos assistir, mais por solidariedade e orgulho 'para com os seus pares', do que pela excelência da actuação (que também se verifica em muitos casos).
A reflexão que todos devemos fazer é, pois, avaliar se vale a pena continuarmos a investir numa cultura que um povo parece desprezar.
Continuo a pensar que sim, porque acredito que as rotinas e os gostos se constroiem, ainda que vagarosamente e e mesmo que o seu alvo seja uma população consumista de futebol, novelas e pouco mais (já nem Fado e Fátima)...
Ontem estavam apenas 28 pessoas no Teatro-Cine. Que imagem negativa, que desalento, que vergonha...
É claro que a receita de bilheteira (ainda por cima com o casal a pagar um só ingresso, por designio do S. Valentim), não paga nem o custo do concerto nem os encargos com a energia e com os meios humanos que a Empresa Municipal está obrigada a disponibilizar.
Mas é este o custo social destas 'coisas da cultura', que têm de existir, mesmo que seja para poucos.